Monday, October 04, 2010

SEM ANOS DE REPÚBLICA: cá chegámos....

Quando criei este blog, há mais de quatro anos, pensei que, quando chegássemos a este dia 5 de Outubro de 2010, teria de escrever um texto especial para assinalar a data.

Assim fiz, mas não vou publicá-lo, porque decidi que não havia melhor texto para constatar que não vivemos numa REPÚBLICA, que pudesse superar uma entrevista que foi publicada exactamente ontem, no jornal diári PÙBLICO.

O entrevistado é um dos mais competentes e sérios dos industriais portugueses.
Acresce a essa qualidade, a circunstaância de ser militante, há mais de vinte anos, do partido que está no governo.

Se vivêssemos numa REPÚBLICA, esta entrevista não seria possível.
Porque homens assim, viveriam muito felizes com o seu Governo, e não neste desencanto.... com esta Pátria...
«(...) pátria para sempre passada, memória quase perdida!»
(Eça de Queirós)


Segue um excerto da entrevista
e o link do jornal, para que queira ler integralmente:



Como avalia as linhas gerais propostas pelo Governo para reduzir o défice do Estado em 2011?

Pelo que se ficou a saber, certo é apenas que os portugueses pagarão, em 2011 e nos anos seguintes, os erros, a imprevidência e a demagogia acumulada em cinco anos de mau Governo. É por isso que, nestas circunstâncias, falar da coragem do primeiro-ministro e do ministro das Finanças, como alguns têm feito, é um insulto de mau gosto a todos os portugueses que trabalham, pagam os seus impostos e vêem defraudadas as suas expectativas de uma vida melhor. As medidas propostas, sendo inevitáveis, dada a dimensão da dívida e a desconfiança criada pelo Governo junto dos credores internacionais, não tocam no essencial da gordura do aparelho do Estado e nos interesses da oligarquia dirigente. Mas o pior é que estas medidas, pela sua própria natureza, não são sustentáveis no futuro e não é expectável que, com este Governo, se consiga o crescimento sustentado da economia.

Quais os efeitos das medidas anunciadas na economia real?

Os livros de Economia ensinam que estas medidas matam qualquer economia, e essa é uma razão adicional para as evitar em tempo útil, com bom senso e boa governação. Em qualquer caso, temos a vantagem de ser um pequeno país e acredito que as empresas têm condições para salvar a economia portuguesa. Mas, para isso, precisam de uma estratégia nacional clara e coerente, um Estado sério e competente que defenda o interesse geral e uma profunda reforma ao nível da exigência educativa
(…)
É inegável que existe um bloco central inorgânico na política portuguesa, que defende interesses privados ilegítimos e permite a acumulação de altos e bem pagos cargos na administração do Estado e nas empresas do regime. O que é facilitado pelo chamado centralismo democrático praticado nos diversos partidos políticos e pela habitual passividade e clubismo do povo português. Nesse capítulo, atingimos o ponto zero da moralidade pública e não vejo como será possível colocar a economia portuguesa no caminho do progresso e do crescimento, com algumas das principais empresas e grupos económicos a poderem ter relações privilegiadas com o poder político e a ser-lhes permitido fugir da concorrência e dos mercados externos, por força do clima de facilidade e de privilégio que detêm no mercado interno.
(…)
Não sei quando é que os portugueses dirão "basta!". Mas sei que o maior problema resultante da imoralidade das classes dirigentes é a pedagogia de sinal negativo que isso comporta.
(…)
Fenómenos como o BPN e o BPP têm muito a ver com esta amoralidade geral reinante. Por outro lado, como pode o cidadão comum combater a corrupção, se o próprio Governo não fizer o que deve e pode para encabeçar esse combate, como ainda aconteceu recentemente?


http://jornal.publico.pt/noticia/04-10-2010/austeridade-nao-toca-na-gordura-do-estado-e-nos-interesses-da-oligarquia-20335545.htm

1 Comments:

Blogger José Leite said...

Carradas de razão!!!!

1:06 AM  

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